Aquilo que eu próprio vi, ouvi e experimentei partilho com a paixão e o ardor de um reconvertido, na certeza de que as palavras não descrevem o muito que o Espírito Santo nos concede em todos os momentos.

Durante muito tempo, e hoje parece-me muito mais longo, a minha relação com a religião levou-me a trilhar um caminho de transcendência sem transcendente, de ausência de Deus. Eu tinha a perceção de que a Igreja sofria da síndrome do entardecer, enredada em ritos e normas, e em que se respirava uma atmosfera de “mofo de sacristia”. Uma religião fragmentada, em farrapos, que não tinha nada de surpreendente e entusiasmante para apresentar, a não ser, por vezes, uma mera recordação de uma ou de outra história predileta.

Mais tarde, mas que até parece que foi ontem, o tempo parou para celebrar a festa do reencontro. O tempo que por vezes é demasiado para carregar tanto sofrimento, outras vezes tão fugaz, que não conseguimos disfrutar de tanta delícia e gozo. Mas o tempo para no momento propício, que surge, surpreendentemente, como uma oportunidade única e inadiável para encontrar Aquele que esteve sempre à nossa espera. Nós, que somos encontrados, também buscamos o lugar inabalável da felicidade, o repouso na fadiga, a serenidade na inquietação, o consolo na solidão, o conforto na dor, a esperança no desânimo, em tudo, simplesmente, a intimidade com Deus.

O Renovamento Carismático Católico permite entrar e fortalecer esta relação amorosa. Nesta relação, reconhecemos Jesus Cristo como o centro da nossa vida, com razões para amarmos e sermos amados, comovendo-nos até às entranhas; razões para confiar Naquele que tudo pode e para quem não há impossíveis; razões para ter esperança de em cada dia sermos de novo.

Dentro desta relação, aprendemos o quanto somos amados e preciosos para Deus, o que nos leva a dar passos num caminho de conversão consciente e contínua para Jesus Cristo, Senhor e Salvador. Nós não somos salvos pela dor, pelo sofrimento ou pelo sangue, somos salvos pelo amor. António Damásio fala dos filhos adotivos, que ao longo do tempo vão ficar parecidos com os pais adotivos, mas nós, agora, somos filhos e somo-lo de facto, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.

Nesta relação, conhecemos aquilo que vemos como presença poderosa e eficaz do Espírito Santo, o que nos leva a fazer a experiência de Pentecostes, como os apóstolos, na Efusão do Espírito Santo. Neste momento de graça e bênção, o Espírito Santo concede a cada um carismas para serem colocados ao serviço do bem comum, na Igreja e na sociedade. A intimidade com Jesus leva-nos a ser e a docilidade ao Espírito Santo leva-nos a fazer. O Espírito Santo, que falou pelos profetas, que inspirou os autores sagrados, que dá a vida, que cria e renova todas as criaturas e todas as coisas, desce sobre nós, destruindo o medo e a dúvida e faz de nós instrumentos de cura dos enfermos, de libertação dos oprimidos, de pacificação dos atribulados, de fortalecimento dos desanimados, de consolo dos tristes, de conforto dos que sofrem, de luz para os desorientados, de ânimo para os abandonados, e para todos, simplesmente, faz de nós canais da graça e de bênção, de milagres e prodígios em nome de Jesus Cristo, que é o Deus Santo, o Deus forte, o Deus imortal.

Viver nesta e desta relação ensina-nos a (re)descobrir os sacramentos, como gestos pessoais de Jesus para comunicar a vida nova e anunciar a salvação. Desperta em nós um novo gosto pelas Escrituras, para rezar e viver a Palavra de Deus, que é viva e eficaz. Leva-nos a uma nova experiência de oração, um diálogo na adoração silenciosa até ao louvor mais apaixonado, através da dança, do canto, de todo o corpo.

Estar envolvido nesta relação impulsiona-nos a entrar mar adentro no desafio da evangelização. O Renovamento Carismático Católico é uma onda de Graça, que vai e vem: que vai às periferias dos esquecidos e abandonados e vem àqueles que não pertencem à Igreja e aos indiferentes; que vai aos ditos cristãos nominais e vem aos batizados que todos os dias recomeçam esta viagem, com surpresas e aventuras.

O Renovamento Carismático Católico é para a Igreja e está na Igreja.

O Papa Paulo VI afirmou que “Renovamento Carismático Católico é uma oportunidade para a Igreja”, uma “eloquente vitalidade da Igreja”, que se traduz numa “nova primavera para a Igreja”.

Podemos dizer que o despertar do Renovamento Carismático Católico, como corrente de Graça de renovamento no Espírito Santo, no seio da Igreja Católica, começou com Papa João XXIII. O primeiro sinal foi beatificação de Elena Guerra, que tinha promovido a devoção ao Espírito Santo, e a quem o Papa chamou “apóstolo do Espírito Santo”. A convocação do Concílio Vaticano II foi um tempo de graça, foi como um Pentecostes para bispos e, a partir deles, para a Igreja. Quando terminou o Concílio Vaticano II começou o Renovamento Carismático Católico.

O Retiro em 17-19 de fevereiro de 1967 na Universidade de Duquesne (Universidade do Espírito Santo), em Pettsburg, nos Estados Unidos da América, foi como fogo ateado nos corações que se alastrou por todo o mundo.

O Renovamento Carismático Católico é uma manifestação extraordinária e soberana do Espírito Santo do nosso tempo, é o movimento de despertar e renovação com maior crescimento na história do cristianismo.

Na beleza da sua dimensão ecuménica, calcula-se que para o ano 2025 haverá 1.100 milhões de carismáticos e pentecostais em todo o mundo.

Em Portugal, esta presença poderosa e eficaz do Espírito Santo manifestou-se no dia 6 de novembro de 1974, em Fátima e é, atualmente, vivida por mais de 5000 pessoas com gratidão, alegria e entusiasmo (caminho para Deus) nos mais de 350 grupos de oração, que se reúnem semanalmente por todo o país.

Mas tudo está no seu início, porque vivemos o insondável mistério de Deus.

No aqui e agora, fazemos nossas as preces de José Tolentino de Mendonça:

“Não te peço sapatos, peço-te caminhos. O gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas e suas mudanças.”

Simplesmente, a graça de nascer de novo para sermos aquilo que somos, tudo.

José Luis Oliveira