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Palavras e gestos na oração carismática

Quem participar numa oração carismática – dentro ou fora do âmbito da Igreja católica – dar-se-á conta de expressões, de monossílabos ou de ressonâncias dos outros àquilo que está a ser dito por alguém que reza. Isso mesmo exprime uma espécie de comunhão na condução do mesmo Espírito Santo, que vai perpassando pelo coração, pela mente e pela expressão corporal de todos e de cada dos que participam nessa oração.

Dado que muitas pessoas foram entrando nos grupos de oração carismática – tanto dentro como fora da Igreja católica – talvez sem terem sido introduzidas ao significado dessa forma de oração ‘carismática’, onde também a expressão corporal tem o seu lugar e importância, vamos tentar refletir sobre estes aspetos, por vezes, tão básicos, mas que não sendo sabidos e vividos podem enfraquecer a própria oração ‘carismática’.

Desde logo se pode questionar: onde podemos encontrar essas expressões na Bíblia? Qual o significado e importância? Sabemos o sentido dos gestos? Rezaremos com o corpo e não só de forma mecânica e um tanto rotineira? Naquilo que é percetível haverá comunhão de gestos em consonância com o que queremos dizer ou mesmo cantar? Estaremos todos sintonizados na mesma forma de oração ou cada um está justaposto aos outros sem se deixar tocar por aquilo que cada um vive e exprime de forma orante? Haverá mesmo a consciência de que é o Espírito Santo quem conduz a nossa oração e não meramente nós que nela participamos? Não se notará bloqueios à ação do Espírito Santo pelo modo como rezamos e O deixamos (ou não) conduzir-nos de forma simples, humilde e sincera?

 

= Vejamos algumas das expressões que encontramos, sobretudo, no livro do Apocalipse de São João (Ap 19, 1-4): Amém, aleluia, louvor, honra, glória, poder, ação de graças… Estas expressões de oração são proferidas pelos seres divinos – a multidão imensa – e os que vivem em condição terrena e humana também recorrem a essas palavras/expressões para se orarem diante de Deus e na comunhão da e na Igreja.

Quem tenha participado nalguma reunião carismática – católica ou não – não terá já reparado, por entre monossílabos dos participantes, a presença de algumas destas palavras do Apocalipse. Diremos que é o Espírito Santo a exprimir-se com gemidos inenarráveis – como nos diz São Paulo em Rm 8, 15 e Ef 4,6 – numa comunhão de fé e de vivência em Deus. Ora, será nesta simplicidade e humildade de coração e de participação que poderemos encontrar a sintonia entre os irmãos na mesma oração, onde Deus liberta e Se faz presença de graça, de paz e de serviço.

 

= Por outro lado, precisamos de ir aprendendo a rezar, interpretando com o corpo aquilo que nos vai na alma e no espírito. Esta conexão entre corpo-alma-espírito (1 Ts 5,23) exprime-se na vida como na oração, levando-nos a conjugar o que sentimos com o que dizemos ou o pensamos com o que fazemos.
Se repararmos em muitos dos cristãos/católicos há na sua oração algo de muito formal e de quase-frio, contrastando com a ‘gesticulação’ de tantas outras expressões religiosas…mesmo não-cristãs. De facto, estar de pé, de mãos abertas ou fechadas, sentado ou de joelhos, prostrado ou em adoração, batendo palmas ou em atitude de reverência, de mãos dadas ou andando…em atitude de penitência ou exultando em festa, de cabeça baixa ou sentindo o chamamento à partilha… todos estes e tantos outros sinais do nosso corpo revelam o ser espiritual e emotivo que é cada um de nós… mesmo nas relações humanas mais básicas.

Como será essencial e urgente explicar – para isso será preciso libertar-se das peias interiores com que nos armámos tantas vezes – que nós somos um ser total e não meramente formal e estereotipado como podemos avaliar muitas das nossas assembleias de católicos ‘normais’.

Se nos aproximarmos um pouco mais da linguagem simbólica/gestual do livro do Apocalipse – dos anciãos e dos seres vivos – poderemos ter de reformular muitos dos nossos gestos e mesmo das vivências que queremos fazer de forma ‘carismática’, isto é, na força e no significado do Espírito Santo.

Talvez o ensaio na Terra deva ser melhor preparado, por forma a vivermos na cidade celeste a comunhão com os Anjos e os Santos…esses que agora glorificam Deus por toda a eternidade.

   

António Sílvio Couto

(antonioscoutosilva@gmail.com)